Em nossos textos estamos constantemente nos referindo à eficiência estrutural e funcional humana ao longo da vida. Para que esta eficiência aconteça o primeiro ponto a ser considerado é se as células que nos constituem e nos transformam estão sendo nutridas tanto em quantidade quanto em qualidade. Isto é uma das funções do sistema vascular. Veja que não é uma tarefa fácil quando consideramos que o número de células a ser alimentada está em torno de 40 trilhões.
O caminho e o sistema de transporte
Os caminhos para que os nutrientes e o oxigênio cheguem até as células e os resíduos e gás carbônico resultantes das diversas reações químicas que ocorrem durante suas atividades sejam eliminados, são os vasos sanguíneos (artérias, veias e capilares) e o sistema de transporte é o sangue.
Ninguém pode ficar sem sua cota de nutrientes senão começa a dar pane. Lembre-se que qualquer movimento realizado desde o nível micro até o nível macro depende da eficiência da atividade celular. Por isso é tão importante manter a eficiência do sistema vascular.
Sistema vascular
O sistema vascular sanguíneo compreende vasos que variam em diâmetro (30 mm a 8 µm) , espessura de paredes (2 mm a 1 µm), tipos e porcentagem de tecidos que os formam (endotélio, t. elástico, t. muscular liso e t. fibroso). A estrutura dos vasos reflete as funções que desempenham, por exemplo, a aorta têm a parede mais espessa pois lida com a pressão constante exercida pelo bombeamento do sangue pelo ventrículo esquerdo. Capilares onde as trocas de nutrientes e resíduos metabólitos acontecem apresentam a menor espessura de parede e diâmetro para permitir que os glóbulos vermelhos passem em fila, as vênulas e veias apresentam paredes mais finas, pois lidam com pressões muito mais baixas.
É interessante ressaltar que os vasos de maior espessura que apresentam mais camadas de células, recebem capilares para que as células que estão mais afastadas do lúmen também recebam os nutrientes. Alguns tecidos tem uma vascularização pobre (tendões e ligamentos), outros não são vascularizados como o tecido cartilaginoso e o epitelial, a córnea e o cristalino que dependem do processo de difusão através de tecidos adjacentes e meio extracelular que os circunda
O fluxo sanguíneo
O fluxo sanguíneo através dos tecidos é dependente da atividade celular, em repouso cerca de 20% do sangue está no coração e circulação pulmonar, 20 % estão nas artérias, arteríolas e capilares e os 60% restantes nas veias e vênulas. Durante o exercício a distribuição do sangue se ajusta às necessidades da situação, veja o gráfico abaixo. O coração é o responsável pelo bombeamento do sangue para os tecidos, a pressão exercida por este bombeamento vai diminuindo ao longo dos vasos, esta diferença de pressão por si só não garante o fluxo sanguíneo de volta ao coração.
O retorno venoso depende de alguns mecanismos como a presença de válvulas em algumas veias para garantir o fluxo no sentido contrário ao da gravidade, estas são abundantes nos membros, estão em pequeno número nas veias da cabeça e pescoço e ausentes nas veias das cavidades torácicas e abdominais. A ação muscular é outro mecanismo, caminhar, por exemplo, auxilia o retorno venoso, pois a intermitência das ações musculares pressionam a parede dos vasos “empurrando” o sangue em direção ao coração, outros mecanismos são a pressão negativa presente na caixa torácica que funciona como uma “bomba à vácuo” e a variação da pressão intra-abdominal, quando o diafragma (músculo da respiração) na sua incursão expiratória normal ”pressiona” as veias (lembre elas não têm válvulas) ele acelera o fluxo sanguíneo na direção do coração.
Estas características estruturais e funcionais do sistema vascular merecem muita atenção, muitos hábitos posturais adotados pelas pessoas como a contração constante da musculatura da barriga impede que o retorno venoso ocorra de modo eficiente comprometendo a função do sistema vascular por impedir a incursão normal do diafragma.
Remodelamento vascular
Sabe-se que a musculatura lisa não é ativada voluntariamente e é controlada pelo sistema nervoso autônomo, no sistema vascular a vasoconstrição ou vasodilatação dos vasos é controlada pelo SNA que ajusta o fluxo sanguíneo para atender às necessidades do metabolismo celular que é dependente do volume e intensidade da movimentação que está sendo realizada. Este controle vascular também exerce um papel fundamental na regulação da temperatura e pressão arterial. Esta constante solicitação de ajustes mantém a eficiência funcional, pois a constante renovação e remodelamento dos tecidos torna os vasos (estruturalmente) cada vez mais “fortes” e mais eficientes. Num próximo texto falaremos do papel da atividade física no remodelamento vascular e na angiogênese (formação de capilares).